Lendas do Passado por João YoYô Filho

 



Surgiam numa estação primaveril, os dias de setembro do ano de 1922.

A civilização não havia estendido em todos os recantos do Nordeste os seus raios vivificadores; apenas no sertão alagoano, tinha aparecido o Cel. Delmiro Gouveia, que, antecedendo uma época, revelava-se um gênio no comércio, na indústria e na prática civilizadora. Acho desnecessário comentar as memórias do mesmo, uma vez que, são bastante conhecidas através de penas apreciáveis.

Não deixava de ser surpresa, sempre que os automóveis do Cel. Delmiro transitavam pelas ruas de nossa cidade. Era um dia de festa, principalmente para a meninada que os cercavam constantemente. Era verdadeiramente incrível, 4 ou 5 horas de viagens, da Pedra de Delmiro à nossa cidade. Nem se avaliou a velocidade dos aviões a jato e supersônicos, em nossos dias, aliás, num espaço de tempo tão curto...

Pouco mais tarde aparece um dos homens de confiança do Cel. Delmiro, após a sua morte, “Zé Pó” dirigindo uma motocicleta, fazendo o serviço do "Correio da Pedra", jornal que circulava em nosso meio, naquela época.

Foi mais uma admiração. Aquele homem parecia andar mais rápido do que os carros do "Cel.". Fazia o trajeto da Pedra a Garanhuns. Muitas vezes fechei os livros na escolas, contra a espectativa do professor, pouco importando o castigo, para apreciar aquele homem, que, acertadamente lhe puseram o nome de "Zé Pó"; pois, aparecia sempre acobertado na sua pele meio escura, pelo pó da poeira que recebia na estrada.

Passa o tempo, ou melhor, passamos pela vida sem sentir a passagem do tempo.

Era muito natural, numa época daquela, em que sentíamos a ausência do rádio, do cinema e dos meios de transportes, as palestras se prenderem muito, em torno do progresso que existia na fala "Pedra de Delmiro”.

O que mais nos prendia à atenção era justamente a grande velocidade desenvolvida pelos automóveis e consequentemente pela maquininha do mestre "Zé Pó". O cinema e a indústria, pouco nos interessava, pois não tínhamos conhecimentos de perto, dos referidos eventos. No refeitório da velha casa da rua Nilo Peçanha, a qual servia de abrigo aos alunos do saudoso estabelecimento de ensino Instituto São Tomás de Aquino, ouvimos falar de um homem que acompanhava os carros do Cel. Delmiro. Era o célebre Honorato Avelino.

O referido homem, dizia o historiador que se achava entre nós: "neste município, no lugar chamado Masmorra, tem um homem chamado Honorato Avelino, que acompanha os carros do Cel. Delmiro".

Como era natural, houve verdadeiro espanto no ambiente. Um homem correr igual aos automóveis da Pedra? Não é possível!... E que homem é esse? - Perguntamos nós.

Fala o nosso historiador: certo dia, estando Honorato na beira da estrada, viu passar o carro do Cel. Delmiro em toda velocidade. Achou que a caminhada que tinha de empreender era por demais enfadonha e desejou imitar o aludido veículo. Que fez então para conseguir o seu intento? Disse ao diabo que lhe desse fôlego para andar igual aos automóveis da Pedra, pois, era somente os que ele conhecia, e, imediatamente, caiu num sono profundo. Quando despertou, notou que lhe faltava dente, e sentiu desejo de caminhar, e aguardando a volta do carro, acompanhou-o conforme seu desejo. Desse momento em diante, ficou caminhando igual aos carros do "Cel", sem sentir nenhum enfado. Perguntamos ao nosso comentarista: como pode ter sido isto? - Foi porque ele tomou pauta com o cão.

Contam também que certa vez o velho Honorato veio casar uma filha aqui, em nossa cidade.

Acontece que os documentos da mesma, ou seja, o batistério, estava arquivado na Matriz Palmeira dos Índios. Somente com o mesmo, o Padre poderá fazer o aludido casamento.

Diz o Honorato ao Padre: “buscar os papéis neste momento o senhor me dê uma carta que chego já"...

O vigário atendeu à solicitação do velho e ficou aguardando o resultado. Começou a ler Breviário, e antes de terminar a leitura do mesmo, eis que se apresenta o homem fenômeno com o documento em ordem. Notemos que de nossa cidade a Palmeira dos Índios são uns oitenta quilômetros mais ou menos; aquela viagem foi realizada, portanto, no espaço de uns 15 ou 20 minutos.

Contam ainda outros casos que são dignos de nota; se fosse numerá-los, enfadariam bastante os nobres leitores.

Conto tudo isso, porém, não os testemunhei pessoalmente, apenas os assevero, baseado nas lendas do passado.



Para saber mais sobre o autor clique aqui


João YoYô Filho, Julho de 1954.

Referência:

Jornal de Alagoas, 1954. Acervo disponível no Arquivo Público de Alagoas.

Comentários

  1. Joao Yoyô Filho fechou sua narrativa com chave de ouro, " Conto tudo isso , porém ,não os testemunhei , apenas os assevero baseado nas lendas do passado..
    Uma bela pesquisa, João de Liô, parabéns!!!

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