Nunca imaginei que, numa única noite, eu seria o protagonista de encerrar uma reunião no Tênis Clube Santanense em 15 minutos depois da minha chegada. Em seguida, andando pela rua, mandaria pra casa uma turma de 40 estudantes do curso técnico em contabilidade do Ginásio Santana. Eu soube dessa informação algum tempo depois. A sala onde eles estavam era bem próxima onde o meu carro estava estacionado. E o mais surpreendente é que eu achava que estava tudo bem! Ninguém teve coragem de me dizer que eu era o responsável por aquela fedentina.
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Cangambá ou doninha fedorenta |
Naquele dia, logo após o anoitecer, quando eu, na iminência de sair de casa para um compromisso, avistei um cangambá (eu pensava que era um gambá) e, na tentativa de afastá-lo, aproximei-me mais do que devia. E esse foi o meu erro. Ele disparou contra mim seu jato de defesa que de imediato não percebi totalmente. Claro que senti um odor desagradável, contudo não achei que fosse tão intenso, nem que tivesse me atingido em cheio. Ledo engano.
Sem pensar duas vezes, fui direto para a reunião, sem sequer suspeitar do alvoroço que eu provocaria. Alguns minutos após minha chegada, um burburinho começou a tomar conta do ambiente. As expressões de desconforto eram evidentes e logo vieram as reclamações: o ar estava pesado, o cheiro insuportável. Mas ninguém ousava me apontar como o causador do problema. Enquanto eu circulava pelo clube, deixava um rastro invisível e implacável e quanto mais tempo eu permanecia, mais intensa se tornava a fedentina.
No início, eu ainda sentia um cheiro estranho, mas, com o tempo, fui me acostumando. Era como se o odor estivesse sumindo ou, pelo menos, era o que eu pensava. Mas o que realmente acontecia era uma ilusão do meu próprio cérebro: ele havia decidido que aquele cheiro não era mais uma novidade e começou a ignorá-lo. Esse mecanismo funciona com aromas agradáveis e desagradáveis, enganando-nos e nos fazendo acreditar que algo desapareceu quando, na verdade, fomos induzidos a não notar mais.
Da mesma forma, um mau cheiro também pode parecer menos intenso após algum tempo de exposição. Isso acontece porque o cérebro entende que aquele estímulo não é novo nem perigoso e, para economizar energia, reduz a sensibilidade ao odor.
O que havia acontecido de verdade? É nesse momento que entra em cena um pequeno animal endêmico da região. Os gambás são marsupiais e, ao contrário da fama, não eliminam substância com odor mau cheiroso. Existem os gambás e os cangambás. São animais de espécies totalmente distintas.
Os cangambás são mamíferos da família Mephitidae, ordem Carnívora, mas não são marsupiais, o que já indica que não são da mesma espécie. Conhecidos aqui como o zorrilho, jaritataca ou também por doninha-fedorenta. Quando se sente ameaçado levanta a cauda e as patas traseiras e libera um jato de líquido fétido, produzido pelas glândulas localizadas no ânus. Este jato pode chegar a 3 metros de distância.
Esse líquido não é produzido constantemente, só em último caso. Além do cheiro desagradável, causa ardência nas narinas e nos olhos, tontura e enjoo, o que ajuda a atordoar os predadores, permanecendo ativo por muito tempo. Essa é a sua principal estratégia de defesa. A secreção expelida pelo cangambá é composta por uma mistura de substâncias químicas contendo enxofre. É tão poderosa que pode ser sentida a mais de 5 km pelo nariz humano, se tiver a favor do vento. Era comum eu sentir o mesmo cheiro que parecia vir da serra das micro-ondas que ficava bem distante da minha casa.
Foi só quando finalmente entendi que havia sido vítima da arma de defesa do cangambá que tudo fez sentido. Entre risadas e olhares de incredulidade, contei minha desventura para quem estava por perto. Mas não havia muito o que fazer senão aceitar a derrota e seguir para casa, levando comigo o cheiro persistente que, mesmo após vários banhos e lavagens dos calçados e roupas, insistiu em me acompanhar por mais de 15 dias.
Desde aquela noite inusitada, aprendi uma valiosa lição sobre o olfato: ele é um traidor sutil, capaz de nos iludir sobre a verdadeira intensidade dos aromas e odores ao nosso redor. O perfume que julgamos fraco pode estar apenas camuflado pela adaptação do nosso cérebro, assim como o cheiro insuportável que, aos poucos, parece desaparecer, mas segue impregnando tudo ao nosso redor.
Eu acreditei que estava tudo bem, que aquele odor não passava de um leve incômodo passageiro, porém a realidade era outra, percebida por todos, menos por mim. A ironia do olfato me colocou em uma situação digna de ser lembrada, e, com isso, aprendi que confiar apenas no nariz pode ser, no mínimo, arriscado.
Junho, 2025
Essa é para morrer de rir, na segunda -feira....boa mesmo kkkkkllkk
ResponderExcluirEssa é para rir, na segunda feira kkkkkl
ResponderExcluirMeu amigo, Xará , você o verdadeiro canganbá na reunião tênis e na vizinhança.. Coisas da vida. Hahahaha Hahahaha Hahahaha.
ResponderExcluirMuito boa essa narrativa..
FETIDEZ AVASSALADORA. O amigo passou por maus bocados com esse marsupial tão presente na caatinga. Só pra ilustração esse líquido mal-cheiroso liberado por glândulas do bicho é um excelente fixador de perfume, os perfumistas extraem o mal-cheiro e usam nos bons perfumes. Pra você ficou a lição oufativa e uma prova que sua memória continua excelente! PARABÉNS CONFRADE JOÃO NETO. ass. Fabio Campos.
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