O cúmulo do esquecimento por Washington V. Alves ( Dotinha)

 



A família Minin é vinda da capital, mais precisamente do Pontal da Barra, local paradisíaco que é uma das atrações turísticas de Alagoas que encanta qualquer cristão pelas belas paisagens das lagoas Mundaú e Manguaba, inclusive o passeio pelas nove ilhas até o Atlântico! Só vendo para acreditar no que digo!

Pois bem, a dita família formada pelo belo casal, o esposo Gonçalo, chefe dos correios e a esposa Lucy, multiespecializada: professora de matemática, português, artes, dança, ginástica e outras atividades artísticas, mormente divulgadora do belo artesanato do Pontal da Barra! O casal se completava pelos rebentos Gonçalinho, Lígia e o primogênito José Carlos.

Moraram inicialmente no prédio dos correios, que fica vizinho ao Banco do Brasil. Porém, aquela residência não oferecia conforto e espaço, porque a casa estava sempre cheia de amigos de Santana e de outras cidades. Família querida por todos! Algum tempo depois, eles se mudaram para a Rua Antônio Tavares, encontrando assim o ideal de um lar com espaço suficiente para acomodar a família e os visitantes que apareciam sem avisá-los. A casa era só alegria, mas de vez em quando, os filhos se desentendiam por coisas desimportantes. Mas logo voltavam à paz. Essas coisas de adolescentes, birras e tolices!

Todos nós praticávamos esportes, desde o futebol, passando pelo judô, halterofilismo e o futebol de salão. Estudávamos no colégio estadual e por nossas qualidades logo fomos selecionados para integrar a equipe de futebol de salão. Eu, Anízio, Nilton, Dias e José Carlos Minin morávamos na mesma rua e os outros que completavam a equipe do colégio, de outras ruas, dentre eles os irmãos Ademir e Adilson, Bado, Leno, Damião e Zé Arnaldo, sob a orientação do saudoso treinador Reginaldo Falcão.

Viajamos para o jogo da semifinal contra a equipe do colégio Quintela Cavalcante em Arapiraca. Bem recebidos, ficamos hospedados nas casas dos estudantes daquela cidade. Porém, um grupo de atletas ficou na casa de um ricaço que não me lembro o nome. Os integrantes do meu grupo foram ao banho individualmente antes do almoço, o último, exatamente José Carlos, nos surpreendeu vindo do banheiro chegando até a sala de estar como Adão veio ao mundo. Aquele espigão de um metro e noventa com os braços pendurados e outros atributos despencados irrompeu na sala deixando-nos atônitos! Passada a surpresa inenarrável, sentamo-nos à mesa para o repasto do meio dia, inclusive, o personagem destacou-se na refeição como o pantófago!

Fomos todos ao jogo na quadra do colégio Bom Conselho, onde as equipes perfiladas já se encontravam para o hino de Alagoas. O jogo já ia começar e todos nós apreensivos pelo jogo que seria muito difícil. A nossa equipe estava muito empenhada, dando o sangue, mas foi o nosso goleiro que se sobressaiu por suas defesas incríveis.

José Carlos, o nosso provido defensor do gol, não deixava passar nada! Vez ou outra ele sofria uma certa letargia, uma espécie de esquecimento rápido, ficava absorto, aéreo e nesse jogo ele sofreu uma paralisia exatamente alguns minutos para o final da partida que estava empatada.

Rapidamente surge um adversário dando um chute com tamanha violência inacreditável e a bola seguiu buscando o ângulo da nossa trave, mas o nosso goleiro ágil consegue evitar o gol fatídico! Aquela jogada parou a todos, a torcida e nós jogadores, coisa para cinema! O goleiro traz consigo a bola e a segurando fica em transe, parado, fixo como uma enorme pedra! Passam-se alguns segundos e ele petrificado, segurando a pelota como se não estivesse presente naquele momento, o corpo estava, mas o seu pensamento não!

Apavorados, nós seus companheiros, começamos a gritar:

- José Carlos, devolve a bola!
- Põe a bola no jogo!

Ele, olhos arregalados como que despertando de um profundo sono, pergunta:

- O que foi?

E caminhando para trás, segurando a bola com suas manoplas, vai entrando no próprio gol!

A gente desesperada e gritando:

- Para, para, para…
- Não passe da linha!

Ele, porém, continuou caminhando para trás, adentrando completamente para o fundo da rede. Já era, perdemos o jogo! E assim, findou de vez o sonho de disputar a final do campeonato alagoano de futebol de salão!


Janeiro, 2024







Washington Viana Alves (Dotinha) é santanense, professor emérito da UNEAL, escritor, violonista, cantor e compositor. Crônica faz parte do seu livro de estreia “Santana em chiste” que se encontra no prelo.

Comentários

  1. Este é o Washington que conheço POIS FEZ PARTE DA TRANSFORMAÇÃO
    DE FUNEC,( FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES, PARA FUNESA E COMO A NOSSA LUTA NÃO PARA, CHEGAMOS A UNEAL ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS ) ASSIM SÓ AGRADECER E COMO VOCE NÃO PARA ,VIVA A SUA E NOVA LUTA,COM O VIÉS FUNDAMENTAL, QUE É O CONHECIMENTO EMANCIPADO

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