Vozes do sertanejo

 







Nas décadas de 1960 e 1970, uma das maiores maravilhas tecnológicas a chegar no sertão alagoano foi, sem dúvida, a emissora de rádio. Mesmo em meio a tantas novidades da atualidade, as emissoras têm lugar cativo. Naqueles anos, a obtenção de homologação de transmissor era ambição inglória. Era reservada aos poderosos e políticos. Nada restava aos menos abastados e amantes da comunicação senão enveredar pelos caminhos da clandestinidade.

Pelé, Wellington Costa e Chico
Acervo do Chico
A primeira emissora clandestina de Santana do Ipanema, a icônica “Rádio Candeeiro”, surgiu em 1962, como movimento reivindicatório pela instalação de energia elétrica na cidade que vivia às escuras. Entrava no ar com auxílio de bateria de automóvel. O lema da emissora era: “Ou chega energia ou se vota em branco! Queremos luz da Chesf!” “Governador veio a cidade. Pediu calma, paciência e confiança no governo. A energia foi instalada em 1963.”


Um povo festeiro e sedento de comunicação não tardou a transgredir e inaugurar várias emissoras clandestinas. Lacradas pelas denúncias de invejosos, uma dava lugar a outra. Músicas, protestos e vozes repercutiam nas casas, ruas, praças, escarpas das serras e veredas. Vozes de gente brava e lutadora que carregava no bornal o maior tesouro: voz e talento. Chico trabalhou em praticamente todas as emissoras ilegais e homologadas, além de ter exercido vários cargos de coordenação.

Hoje, homem feliz, marcado pela saúde debilitada e lembranças confusas, sequer recorda com precisão quantas batalhas venceu. Contudo, nós lembramos, é o que basta! Esse é o Chico Soares, filho de seu João Soares e dona Dineusa Campos. O maior comunicador que o sertão já teve, sem nenhum demérito aos muitos profissionais da terra. Fez de tudo: voluntariou-se como locutor-animador de lojas nos dias de feira para desenvolver seus recursos e habilidades. Nos anos 1950, divulgava a programação do Cine Glória em veículo, com som improvisado.


Carro de som de Chico Soares

Com o pioneirismo de seu moderno carro de som, inaugurou o tempo das propagandas comerciais em qualquer logradouro. Radialista, animador de programas de auditório, mestre de cerimônia, discotecário e locutor de parque de diversões. Diversificou e pintou o sete na área da comunicação social, incluindo puxador de samba-enredo, na década de 1960, das Escolas de Samba Unidos do Monumento e Juventude no Ritmo.

Foi protagonista de fato curioso, lembrado pelo amigo Petrúcio Oliveira (1945-2019), comerciante, motorista e taxista. Relatou que estavam na Estação Rodoviária conversando, quando chegou uma terceira pessoa que o abordou:

- Fala Chico! Chico, me dá aí, um cigarro dos teus!
- Dou não!
- Oxente, Chico! Tá me estranhando!
- Não é que eu prometi a mim mesmo! Não dou, nem peço cigarro a ninguém! Fumar é luxo! Fuma quem pode!


Protesto no Cine Alvorada pela volta de Chico Soares
Acervo de Chico Soares
No período em que atuou como apresentador e animador de programa de auditório no Cine Alvorada, foi substituído no comando do programa dominical, porém o público reprovou a atuação do seu substituto, apelidado de “Coroné”. Descontente com o estilo do animador, o público protestou e interditou o programa exigindo a volta do consagrado apresentador que retornou para a alegria do povo.

Recebeu uma Menção Honrosa quando da entrega do “Troféu Mandacaru” aos destaques de sua categoria, no Tênis Club Santanense, no ano 2000. No mesmo ano, gravou um cedê narrando a história do município por ocasião dos 126 anos de Emancipação. O cantor e compositor santanense Ciço Grilo compôs uma música carnavalesca homenageando-o em 2001. Foi lembrado em desfile cívico em 7 de setembro de 2003. Constou, dentre os vultos históricos do município, representado por aluno da Escola Senhora Santana.

Pelo seu legado, coerência e princípios representou, com louvor, as vozes dos sertanejos e da seca. Uma voz no vento ainda ressoa…


Chico, o comunicador.


 

Outubro, 2023




Fonte de referência: ( Clique, para saber mais.)

www.amigosdefranciscosoares.blogspot.com
Contextualização e memória da radiodifusão santanense


Comentários

  1. Eita João... realmente o Chico Soares era uma fera...ele e Petrucio eram grandes amigos

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  2. Fabio Campos Agradeço ao confrade pela crônica que relembra sobre meu irmão Francisco Soares, realmente um grande radialista e locutor. Em seu nome agradeço caro confrade João!

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    1. Não tem de quê confrade Fábio ! Chico Soares tem história pra contar.

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  3. Joaodomato6@gmail.com16/10/2023, 11:54

    Realmente o Chico Soares foi um pioneiro obstinado da comunicação em Santana do Ipanema.
    Parabéns, João de Liô, pelo resgate da memória desse grande comunicador..

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