Zé de Almeida: o cantador





José de Almeida Silva (Zé de Almeida) nasceu em 04.02.1945, em Santana do Ipanema, no bairro Camoxinga, filho de Ernesto Luiz da Silva e Altina Henrique de Almeida. Seus irmãos: Noé (falecido), Nelson e Noêmia. Dos 6 meses até os 12 anos viveu na Fazenda Mocambo, à época município de Santana do Ipanema, atualmente pertencente ao município de Poço das Trincheiras. Repentista, aboiador e cantador de toadas.


Foto Lucas Malta, Alagoas na Net


Foi influenciado diretamente pelos pais que eram cantores populares. Aos seis anos já se apresentava em festas familiares e em comemorações intimistas onde recitava versos para a plateia. Iniciou cantando repentes e toadas. Somente em 1985 passou a acrescentar forró ao repertório.

A arte hoje conhecida como cantoria ou repente teve origem na segunda metade do século XIX, na Serra do Teixeira, sertão da Paraíba, região onde os primeiros repentistas começaram a travar desafios de repentes. A maioria desses primeiros repentistas cultivava o hábito da leitura, da escrita e vivia da agricultura, comércio e outras atividades, sendo o resultado financeiro das cantorias uma renda complementar.

Seus estudos foram no Grupo Escolar Padre Francisco Correia, Grupo Escolar Ormindo Barros e Ginásio Santana.

Antes de se dedicar integralmente ao ofício de cantador, exerceu o cargo de vigilante do Banco do Estado de Alagoas em Santana do Ipanema, desistindo da profissão por incompatibilidade com a vida artística.

Casou-se com a senhora Maria do Socorro Siqueira da Silva. Da união nasceram as filhas Valdênia, Valdenice, Valdilene, Walderly e Maria José, filha de coração.

Reconhece também a influência de Vavá Machado e dos cantadores da Paraíba. Com o aprimoramento das habilidades artísticas, os amigos conhecedores do seu talento o levaram para conhecer as vaquejadas, encontro de repentistas e cantadores de viola. A partir de então sua presença passou a ser exigida nos eventos do estilo, desde 1962.

Durante um período exerceu a atividade de pecuarista em parceira com o tio Manoel Tenório Bezerra, durante a semana. Inclusive, era conhecido como Zé de Seu Tenório. Era comum os trovadores nordestinos se apresentarem nas feiras populares. Os artistas contemporâneos conhecedores do seu talento faziam questão da sua presença para fortalecer as cantorias e chamar à atenção do público, pois sua participação reforçava os cachês ofertados pelo público. Conta Zé de Almeida que participava apenas para valorizar os artistas, recusando qualquer pagamento.

Nos anos 90, durante as Feiras de Cultura realizadas na AABB, sob a coordenação do professor Clerisvaldo Chagas, o artista participou de aula espetáculo cantando os diversos estilos da cultura popular.


Existem mais de 30 modalidades de Repente. De acordo com a modalidade, os versos podem ser de 4, 5, 7, 10 ou 11 sílabas rítmicas e as estrofes, em maioria, são compostas por 6, 7, 8 ou 10 versos cada. Em certas modalidades, alguns dos versos componentes das estrofes são pré-definidos, com os quais são rimados versos improvisados. Dentre as modalidades mais usadas estão: Sextilhas; Mote de Sete Sílabas; Mote Decassílabo; Martelo Agalopado; Galope à Beira-Mar; Mourão e Coqueiro da Bahia.

Afirma que já perdeu a conta do repertório das gravações. Escreveu várias músicas entre elas, Será Que é Ela? Pensamento de Vaqueiro, Mulher do Short Apertado e Orgulho de Vaqueiro. Foram gravados vários cedês e elepês com Paulo Nunes, Vavá Machado, Manoel Laurindo, Zé Vicente da Paraíba, Zé Pequeno do Pajeú e Neve Branca.

Durante mais de 22 anos na emissora rádio correio do sertão, apresentou o programa “O Sertão e a Viola” em parceria com João Paraibano. Depois o programa “Viola do Ipanema” com Daldeth Bandeira. Atualmente apresenta o mesmo “Viola do Ipanema” na rádio correio do sertão-fm.

A arte do repente se caracteriza pela ação dos cantadores que, em dupla, tocam violas com afinação regra inteira ou nordestina e cantam alternadamente estrofes rimadas compostas no momento da apresentação. Os repentistas utilizam estruturas pré-definidas com relação à métrica e melodias pré-existentes, as toadas, que são compartilhadas por esses artistas e, em muitos casos, se desconhece a autoria.

Nos festejos juninos de 2014 em Santana do Ipanema o artista foi homenageado pelo conjunto de sua obra como um dos maiores poetas do Nordeste.





Em 2017 o poeta santanense-pocense tornou-se cidadão tacaratuense com a concessão do título de cidadão honorário da cidade pernambucana de Tacaratu. O vereador Zé Nelson, autor do projeto, destacou lado humilde e simples do cantor. “Esse título homenageia mais que um cantor ou compositor. Zé de Almeida é antes de tudo, um grande ser humano. Sua humildade e simplicidade foram características que fizeram o tacaratuense gostar tanto desse poeta”, destacou o parlamentar. Assista ao discurso cantado no evento.(clique aqui)

Conectado com o mundo digital, mantém canal no youtube denominado Zé de Almeida (oficial) “O poeta do povo” contendo apresentações individuais e em parceria com outros artistas, com mais 47 mil inscritos, além de participações em outros canais. Vários de seus vídeos têm mais de meio milhão de visualizações. É muita gente a ouvir e a aplaudir o grande artista, inclusive nós! Viva Zé de Almeida, o poeta do povo!

Pelo conjunto de sua obra artística a Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes conferiu-lhe o título de sócio benemérito.


Para conhecer mais sobre o artista:

Assista ao documentário do programa "Terra e Mar", da TV Gazeta de Alagoas: História de Zé de Almeida (Clique aqui)
Leia a crônica "Repentista e aboiador", do escritor Clerisvaldo Braga das Chagas (Clique aqui)



  

Lícia Cibelle Maciel Carvalho e

João Neto Felix Mendes, janeiro de 2022.


Comentários

  1. Grande Zé de Almeida... esforçado como ninguém. Bela lembrança

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  2. Zé de Almeida merece todas as homenagens

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  3. Que maravilha! Publicação feita em muito boa hora. Parabéns Lícia e parabéns, João!

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  4. Excelente homenagem textual, para valorizar o grande artista e, por consequência, nossa Cultura, que, infelizmente, vem sendo saqueada a olhos vistos. Mas há de reerguer-se forte, porque a Arte é o que nos motiva a transcender o intransponível.

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  5. Realmente. É o cara. Desde que "me entendo de gente ", o nosso Zé de Almeida e exercia sua Cantoria. Parabéns aos Escritores desse Artigo. Parabéns ao Poeta, Músico e "Cantador". Cantor! Muita saúde e paz.

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  6. Bela homenagem prestada a esse grande artista.
    Parabéns, João Fê Liô!

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  7. Eu tive aportunidade de conviver com esse artista quando fui bancário do produban. Conheço bem de perto a sua trajetória de profissional da viola. Certa vez, Dr. Dalmario me disse que ele já se destacava desde os sete anos.
    Escrevi uma crônica a seu respeito. Essa matéria foi muito bem escrita. Esse poeta, trovador, repentista tem um valor altíssimos e inestimável. Merece muito mais. Viva Zé de Alneida. Palmas!!

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