Festividades a Senhora Sant'Ana - hino e devoção à padroeira dos santanenses

        



Foto: Imagem primitiva de Senhora Santana trazida pelo
Padre Francisco Correia em 1787. Escultura restaurada
.



De acordo com o Evangelho de Mateus, 42 gerações se passaram desde Abraão até Jesus, divididas em três blocos de 14 gerações cada. O primeiro grupo vai de Abraão a Davi; o segundo, de Davi até o exílio na Babilônia; e o terceiro, do exílio na Babilônia até Jesus.

14 gerações: Abraão até Davi.
14 gerações: Davi até o exílio na Babilônia.
14 gerações: Do exílio na Babilônia até Cristo.

Jeremias 1:5: O Senhor fala ao profeta Jeremias: "Antes que eu te formasse no ventre da tua mãe, eu te conheci, e antes que saísses do seu ventre, te santifiquei; te dei por profeta às nações".

Ela transmite a ideia de um chamado divino e uma escolha prévia, onde Deus seleciona as pessoas antes mesmo de elas nascerem para cumprir um propósito.

João Batista é amplamente considerado o último profeta antes de Jesus. Ele é visto como o profeta que anunciou a vinda do Messias, preparando o caminho para ele.
Sobre Joaquim e Ana, pais de Maria, não há nenhuma referência na Bíblia e tampouco notícias certas; as que chegaram até nós, hoje, são extraídas de textos apócrifos, como o protoevangelho de Tiago e o Evangelho do pseudo Mateus, além da tradição.

Sant'Ana, cujo nome em hebraico significa graça, pertencia à família do sacerdote Aarão e seu marido, São Joaquim, pertencia à família real de Davi.

Ana parece ter sido filha de Achar e irmã de Esmeria, mãe de Isabel e avó de João Batista. Segundo a tradição, Joaquim era um homem virtuoso e muito rico, da estirpe de Davi, que costumava oferecer parte do ganho dos seus bens ao povo e, outra parte, em sacrifício a Deus. Ambos moravam em Jerusalém. Quando se casaram, Joaquim e Ana não tiveram filhos por mais de vinte anos. Não gerar filhos, para os judeus daquela época, era sinal da falta de bênção e da graça de Deus.

Certo dia, ao levar suas ofertas ao Templo, Joaquim foi repreendido por um homem, chamado Ruben (talvez fosse sacerdote ou escriba): pelo fato de não procriar, em sua opinião, ele não tinha o direito de apresentar as suas ofertas. Humilhado e transtornado com aquelas palavras, Joaquim decidiu retirar-se para o deserto e, durante quarenta dias e quarenta noites, suplicou a Deus, entre lágrimas e jejuns, que lhe desse descendentes. Ana também passou dias em oração, pedindo a Deus a graça da maternidade.

As súplicas de Joaquim e Ana foram atendidas lá no alto. Assim, um anjo apareceu a ambos, separadamente, avisando-lhes que estavam para se tornar pais. O encontro entre os dois, na porta de casa, após o anúncio, foi enriquecido com detalhes lendários. O beijo, que os dois esposos trocaram, teria ocorrido diante da Porta Áurea de Jerusalém, lugar onde, segundo a tradição judaica, a presença divina teria se manifestado, como também o advento do Messias. A iconografia deste beijo, diante da famosa Porta, teve grandes dimensões: os cristãos acreditavam que Jesus teria entrado por ali na Cidade Santa, no Domingo de Ramos. Meses depois do retorno de Joaquim, Ana deu à luz a Maria. A criança foi criada com o cuidado carinhoso do pai e a atenção amorosa da mãe, na casa situada perto da piscina de Betzaeda. Ali, no século XII, os Cruzados construíram uma igreja, que ainda existe, dedicada a Ana, que ensinou as artes domésticas à filha.

Quando Maria completou 3 anos, Joaquim e Ana, em sinal de agradecimento a Deus, levaram-na ao Templo, para consagrá-la ao seu serviço, conforme havia prometido em suas orações. Os textos apócrifos não fazem outras referências sobre Joaquim, enquanto sobre Anna, acrescentam que ela teria vivido até aos 80 anos de idade. Suas relíquias teriam sido conservadas, por longo tempo, na Terra Santa; depois foram transferidas para a França e enterradas em uma capela, escavada sob a catedral de Apt. Mais tarde, sua descoberta e identificação, teriam sido acompanhadas por alguns milagres.

O culto aos avós de Jesus, desenvolveu-se, primeiro, no Oriente e, depois, no Ocidente; mas, ao longo dos séculos, foram recordados pela Igreja em datas diferentes. Em 1481, o Papa Sisto IV introduziu a festa de Sant’Ana no Breviário romano, fixando a data da sua memória litúrgica em 26 de julho, dia da sua morte, segundo a tradição; em 1584, o Papa Gregório XIII incluiu a celebração litúrgica de Sant’Ana no Missal Romano, estendendo-a a toda a Igreja; em 1510, Papa Júlio II inseriu, no calendário litúrgico, a memória de São Joaquim em 20 de março; depois, foi mudado várias vezes, nos séculos seguintes. Com a reforma litúrgica, após o Concílio Vaticano II, em 1969, os pais de Maria foram "reunidos" em uma única celebração, em 26 de julho.

Relatos da terceira edição do “Escorço Biográfico do Missionário Apostólico Padre Francisco Correia”, organizada pelo portal Maltanet, publicado em 2012, com o prefácio do professor Dr. José Marques Melo (1943-2018), dão conta das seguintes proposições: “Endossando a tese proveniente da história oral, disseminada pelo cônego Theotônio Ribeiro(1855-1929), afirma-se que, até que surjam documentos que a contradigam: o fundador da cidade de Santana do Ipanema foi o evangelizador Padre Francisco Correia porque deu início ao processo de povoamento do local.

Tudo começou quando o missionário ergueu uma capela em honra à Sant’Ana, nas adjacências da foz do riacho Camoxinga, afluente do rio Ipanema, nos limites da fazenda de criação de gado de propriedade do sertanista Martinho Rodrigues Gaia, com a sua ajuda financeira.”

“Quando o padre Francisco Correia chegou à Ribeira do Panema em 1787 para exercer o sacerdócio, trouxe consigo a imagem de Senhora Santana, diretamente da Bahia, a pedido de Ana Tereza, esposa de Martinho Rodrigues Gaia, primeira devota de Sant’Ana da Ribeira do Panema, dando início ao que seria uma das mais importantes festas religiosas do interior de Alagoas, celebrada com muito fervor e devoção pelos santanenses.”

De acordo com os registros o Padre Francisco Correia somente passou a residir definitivamente na localidade 25 anos depois, em 1812. Nesse ínterim, dona Ana Tereza foi a principal guardiã da devoção e das festividades à Senhora Santana, não obstante seu nome não conste da história escrita, o que é uma grande injustiça.

Atuando no aparato governamental, de 1825 a 1833, O Padre Francisco Correia reuniu capital político suficiente para propor a criação da Freguesia de Sant'Ana da Ribeira do Panema, o que foi sancionado em 1836. Nomeado primeiro vigário da nova freguesia, permaneceu em exercício até 1842, quando deixa essa função eclesial aos 85 anos para recolher-se ao sítio Fazendinha em Bezerros PE, onde faleceu em 1848 (Ribeiro,2012,p.18).

Procissão de encerramento da festa em 26.07.1912. Foto mais antiga da celebração que se tem notícia. Estava em andamento a primeira grande reforma no paroquiato do Padre Manoel Capitulino de Carvalho(1872-1942).

Segundo informações de Luiz Maurício Bulhões, sobrinho do Padre Bulhões (1886-1952), o hino à Senhora Santana foi composto a pedido do padre a duas personalidades que sempre frequentavam à festa da padroeira. A letra foi escrita pelo Cônego Theófanes Augusto de Barros, amante da cultura. Ao musicista Joaquim Costa, organista da Barra de São Miguel, foi encomendada a melodia. Provavelmente a estreia do hino foi por ocasião das festividades do ano de 1946. Estava em andamento a segunda e grande reforma da igreja Matriz tendo como mestre de obras o senhor Antônio Torres Galindo, conforme relato do neto Luiz Carlos Galindo.


Igreja após a segunda grande reforma iniciada pelo Padre José Bulhões e concluída
 pelo Padre Fernando Medeiros em 1947.




Padre Teófanes Augusto de Araújo Barros (1912-2001), Lagense, era escritor, poeta, filosofo e poliglota, dentre outros atributos. Foi professor da Universidade Federal de Alagoas, tendo contribuído para fundar a Faculdade de Filosofia em 1950. Dirigiu a UFAL e fundou, à época, o Centro de Estudos Superiores de Maceió – CESMAC, para oferecer aos trabalhadores a opção de terem acesso ao ensino superior no período noturno. Também foi um dos fundadores do Conselho Estadual de Educação, do Sindicato dos Professores, do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Alagoas, da Associação das Escolas Católicas de Alagoas. Foi membro da Academia Alagoana de Letras, da Academia Maceioense de Letras e do Instituto Histórico de Alagoas.

No livro comemorativo dos 60 anos de Ginásio Santana, está registrada outra passagem marcante do padre Teófanes, descrita assim: “A história do Ginásio Santana, atualmente Colégio Cenecista Santana, conta em sua ata de fundação do diretório municipal de Santana do Ipanema, da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos que, no dia 20.07.1949, enfrentando a poeirenta estrada e, após muitas horas de viagem, chegava a Santana do Ipanema o padre Teófanes Augusto de Barros Araújo. O sertão alagoano ouvia falar pela primeira vez em Campanha Nacional de Educandários Gratuitos. Estava fundado o Educandário. Fundou-se a longeva instituição de ensino denominada “Ginásio Santana” que tem prestado relevantes serviços ao povo santanense.

Joaquim Costa, apelidado de “Quincas” era músico e compositor, nascido na Barra de São Miguel. Estudou na tradicional cidade de Marechal Deodoro que mantém o prestígio e tradição musical, faleceu em 31.05.1991. Foi professor de música no seminário diocesano de Maceió, inclusive teve entre os seus alunos o professor e historiador santanense Tobias Medeiros, conforme seu depoimento.

Fato curioso é que a escultura primitiva de Senhora Santana foi doada pelo padre Luiz Cirilo ao Museu Xucurus de Artes e Costumes de Palmeira dos Índios a pedido do bispo Dom Otávio. Idealizado pelo escritor Luiz B. Torres no fim da década de 60, o museu foi fundado com a colaboração do Bispo Dom Otávio Aguiar e o Tenente Sinhô em 12 de dezembro 1971 e teve como sede provisória a Igreja do Rosário dos Pretos, construída em 1802 e que na época da doação estava desativada, devido à proximidade com a Catedral Diocesana. O acervo do Museu Xucurus continha peças de arte religiosa e de artes em geral, fruto de doação de famílias palmeirenses, além de várias peças indígenas. Em 1981, pude constatar in loco a escultura compondo o acervo do museu. A imagem somente retornou a Santana do Ipanema em 2006 pelas mãos do Padre Delorizano Marques da Rocha que era colecionador de antiguidades e peças sacras. Segundo seu depoimento para obter a escultura de volta à terra a negociação envolveu a doação de várias peças sacras do seu acervo particular.

Altar lateral em honra a N. Sra. de Fátima

Até 1982, antes do desabamento da nave central e da reforma total do seu interior, a igreja tinha vários altares laterais. Havia o Altar do Coração de Jesus, cuidado por Maria dos Prazeres Oliveira(†); o Altar de de Sant'Ana, cuidado por Maria Jiló(†); o Altar do Santo Cristo, cuidado por Antea Queiroz(†); o Altar de Nossa Senhora de Fátima, cuidado por Marinalva Cirilo Silva(†); o Altar de Nossa Senhora do Rosário, que era cuidado por dona Hermínia(†).Santos F, 2016,p.143).





"A Paróquia de Senhora Sant’Ana em 2016, se reuniu para comemorar a efeméride dos 180 anos de existência canônica, cuja temática refletida foi “180 anos anunciando, vivenciando e celebrando as alegrias do Evangelho”. As festividades tiveram início no dia 16 de fevereiro prolongando-se até o dia 28. Ao longo desses dias, várias homenagens foram prestadas pelos santanenses que recepcionaram todas as paróquias que foram desmembradas da Paróquia de Senhora Sant’Ana. Ademais, homenagens foram externadas à Paróquia de Nossa Senhora do Ó, de Traipu, de cuja sede foi desmembrada a Freguesia de Santa Ana da Ribeira do Panema.

Do mesmo modo, vários padres foram reverenciados ao longo das celebrações eucarísticas. Aqueles que já exerceram o ministério sacerdotal na paróquia, como o Monsenhor Delorizano Marques da Rocha e o monsenhor José Nascimento. Foram prestadas homenagens póstumas aos padres; Cônego Luiz Cirilo Silva, ao Monsenhor Fernando Medeiros e ao Cônego José Bulhões. Todos foram aplaudidos pela coragem e hombridade de se dedicar ao torrão sertanejo. Além das homenagens aos padres que são santanenses, o pároco e o vigário paroquial que foram vibrantemente ovacionados pelos trabalhos de evangelização.

Nos últimos dias da festividade, aconteceu um Tríduo Eucarístico, com exposição do Santíssimo Sacramento na Igreja da Sagrada Família para adoração dos fieis durante o dia, culminando com a procissão à Igreja Matriz. Para o Tríduo, a paróquia recepcionou os Bispos da Província Eclesiástica de Alagoas: Dom Valério Breda(Penedo), Dom Antônio Muniz Fernandes(Arquidiocese de Maceió) e Dom Dulcênio Fontes de Matos(Palmeira dos Índios).

Celebrações dos 180 anos da Paróquia de Senhora Santana e São Joaquim em 2016


No último dia de comemorações, Dom Dulcênio, bispo diocesano, encerrou os festejos dos 180 anos, ao tempo que instituiu a paróquia de Senhora Santana como Santuário para a peregrinação do setor Santana por ocasião do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Assim, na Matriz foi aberta a Porta Santa da Misericórdia para a passagem dos fieis. Em sua homilia, Dom Dulcênio enfatizou que a comemoração dos 180 anos é um momento de ação de graças e de bons propósitos. E, também, de cumprimentos, de agradecimento a Deus pelos sacerdotes, catequistas, leigos e leigas, irmãs religiosas que passaram por Santana do Ipanema e entregaram suas vidas pela causa do Reino de Deus.

Avante, Paróquia de Senhora Sant’Ana! Avante, Santanenses! Que Senhora Sant’Ana e São Joaquim continuem a proteger os santanenses neste torrão sertanejo, que tanto necessita de lenitivo e conforto."

Assista a seguir, trecho da procissão de encerramento das festividades à Senhora Santana em 1994. Clique para assistir

Altar reformado a partir de 1982, com a reconstrução do interior da matriz.

Hino à Senhora Santana, versão 1

Hino à Senhora Santana, versão 2

Hino a Senhora Santana em 1994
 (Letra Padre Theófanes de Barros e Música de Joaquim Costa)

Escolhida por Deus ab eterno
Para ser mãe da virgem Maria
Vós brilhais com fulgor sempiterno
No esplendor que do céu irradia
{Refrão}
Santa mãe da mãe de Deus
Recebeis filiais corações
Derramai de lá do céu
Graças mil sobre os nossos sertões
Vossa glória da virgem dimana
Protegei-nos Senhora Santana
Nossa terra a vos é consagrada

Padroeira de nossa cidade
Ajudai-nos em nossa jornada
Protegei-nos avó de bondade

(Refrão)

Vede avó de carinho e bondade
Como sofrem os vossos netinhos
Acolhei toda humanidade
Dispensai-lhes o vosso carinho

(Refrão)

Afastai-nos do mal ó Sant’Anna
Conduzi-nos ao reino dos céus
Nós queremos após luta insana
Contemplar a grandeza de Deus



parte 1



parte final


Referência: 

https://diocesedepalmeiradosindios.blogspot.com/2016/03/180-anos-da-paroquia-de-senhora-santana.html
Julho de 2020
Atualizado em Julho de 2025

Comentários

  1. Mais um documento de valor histórico, que precisa ser massamente disseminado entre os santanenses, para preservação da sua memória e tradição. Parabéns, João, por você ter essa função de guardião, e, principalmente, por fazê-la com uma Qualidade de primeira grandeza.

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    Respostas
    1. Fernando, obrigado pela leitura frequente e comentário. Incentiva a produção de novos trabalhos.

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  2. Belo trababalh Xará! Que Deus continue abençoando essa sua capacidade de ordenar os registros.
    Parabéns

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  3. Parabéns pela pesquisa e obrigado pela publicação. Quanta riqueza de detalhes, parabéns

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  4. Mais uma vez, parabéns Xará!
    Mais um resgate que fica prá história.
    Abraço
    João Neto Oliveira.

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