Bom Emprego de Capital (Encanar água da Serra do Poço para Santana do Ipanema, 1938)

 

Furna da Onça, trecho da Serra do Poço





Bom Emprego de capital
(Encanar água da Serra do Poço para Santana do Ipanema)


Tenho um certo pressentimento de que os leitores do JORNAL DE ALAGOAS, que leram as minhas correspondências de 30 de junho e 14 do corrente, publicadas nos jornais de 5 e 15 do andante, em cujos finais fiz uns comentários com as epígrafes "Luz" e "Enfermo sem remédio", respectivamente, mantêm uma certa ojeriza ao meu método de aparente parcialidade.

Não tenho apaixonamentos quando reivindico direitos em bem coletivo. Esta cidade tem uma avalanche de casos a resolver.

O da “luz”, é o que venho sempre comentando. Mas como, por ora, esta questão é um "enfermo sem remédio", volvo-me agora para a pobreza, ou melhor, para falta total de água de que constantemente sofremos aqui.

A aquisição de água nesta cidade, é feita por três meios, resultando todos em prejudicar a saúde da população.

O primeiro, ou melhor o primitivo, é a execução, na areia do Ipanema, de grandes fossos aos quais se denominam "cacimbas". Tais fossos, só dão demonstração de precioso líquido depois de já estarem muito profundos. A água que delas se obtém é tão boa como qualquer salmoura. Sendo o Ipanema um rio que permanece seco e em cujo leito vão repousar os excrementos das sentinas da cidade, não pode a água de tais "cacimbas" ser pura quando filtrada por uma areia impregnada de tantas imundícies.

O segundo meio, é o da "cisternas" feitas sob a beira dos telhados. A água que para ali vem, é colhida por meio de "bicas" para isso apropriadas. Quero também provar a deficiência desse meio, baseando-me no seguinte: Se a água vem do telhado, e este, como todos sabemos, é a "arena" dos ratos imundos, não pode a água, - que por ela passa deixar de prejudicar a saúde dos que a bebem. Depois disso, onde ela é acumulada? Em caixões de cimento sim, mas ali fica completamente abafada por muitos dias e até meses.

O terceiro meio, é tão maléfico ou mais que os outros. Este é o dos conhecidos "açudes". A água que para ali vem, parece incrível dizer-se, é a das enxurradas que em sua onda conduzem toda espécie de imundície: excrementos, sapos podres, cobras, etc. Depois de um certo deslize, o curso dessas enxurradas é interrompido por um grande fosso e aí vão se acumulando água e porcarias. É o que constitui o tal "açude", de onde, no verão, a classe média da cidade se abastece de água.

Alguém poderá dizer: Mas em Sant'Ana, não há solução para a questão da água?

Eu porém contradigo.

O problema da água, é insolucionável, por parte dos pessimistas sem iniciativa. Porém haja um otimista e empreendedor que se interesse pela saúde e prosperidade de Sant'Ana, que, sem necessitar um esforço de investigação, encontrará vários meios de solucionar tal problema e, com poucos gastos, verá o resultado.

Sem grandes dispêndios e com pouco trabalho traria, qualquer empreendedor da Serra do Poço, que dista daqui poucos quilômetros, sem machismo de espécie alguma, somente com os auxílios naturais do terreno, água a esta cidade. A canalização e um pequeno paredão lá na serra para captação das águas, são os únicos trabalhos para montagem e desfrutamento do capital empregado que além de bons frutos, traria o beneficiamento da população desta cidade, concorrendo assim, aquele que a isso se dispusesse, para o engrandecimento próprio e do lugar com a condição ainda de ficar o seu nome gravado nos corações dos santanenses, como o maior benfeitor.

Aliás, é este o conselho do Dr. Augusto Pereira da Costa, Juiz de Direito, conselho que vale como uma lisonjeira insinuação ao espírito empreendedor dos nossos capitalistas.


Augusto Pereira da Costa, 31 de Maio de 1938


Assista ao vídeo produzido por seu Antônio do canal do Youtube "Canal do Homem da Roça" que mostra o manancial da Serra do Poço. Clique aqui



Comentários

  1. Dr Augusto Pereira da Costa , Juiz de Direito da Comarca de Santana do Ipanema, com um visão realista sobre qualidade das águas disponíveis na cidade . E uma sugestão sobre o aproveitamento da água , via gravidade em tubulações, da Serra do Poço.
    A pesquisa está descobrindo muitos escritores até então inéditos.
    Parabéns, Xará!

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