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Morte. Redes Sociais |
Tudo neste mundo de confusionismo se transforma para o melhor ou para o pior. Tudo aparece e desaparece. O tempo, como se diz, ainda continuará sendo o grande consumidor de todas as coisas.
Um acontecimento passa a dominar na terra devisivamente por efeito da grande modificação com que apareceu e no entanto, depois do grande espanto implantado, vai conformando e acostumando a humanidade como sendo uma coisa bem simples. Tenha embora surgido em forma da maior catástrofe e sacudido o mundo inteiro com a sua aparição. Outras transformações aberrantes que vem logo mostrando a sua condição de continuidade, desinquietam, causam a maior apreensão, dão pavor, desenganam, contudo tornam-se mais tarde casos comuns nas suas consequências e reproduções.
Estou tentando explicar que são ocorrências que vão tendo repetição já com uma coisa bem natural. Seja qual tenha sido quando da primeira vez. Mas o abalo e o acabrunhamento causados pela morte, nunca serão recebidos como uma ocorrência comum, apesar de ser o fato mais natural que inevitavelmente atinge a todos neste planeta. A morte quando chega desmorona tudo. Traz o desconsolo, traz as lágrimas, traz a desorganização, traz tudo enfim. Não vem ao caso saber-se por qual modo ela penetrou num lar. De qualquer maneira é uma grande tristeza que vai desde logo imperar. Chegará com o novo desfecho, nem que seja uma ocorrência já esperada como sem jeito. É sempre a tristeza.
Eu fui, com a irmandade de quatro membros, muito feliz. Só nos limites naturais do acontecimento foi que a morte envolveu os nossos pais.
Nesse particular julgo que fomos sumamente felizes. Pai e mãe só nos deixaram para o sono da eternidade quando alcançaram mais ou menos o fim da existência. Isso mesmo, em perfeito uso da razão.
Já a mesma coisa não ocorreu com os meus filhos. Não tiveram eles essa grande ventura. Ainda julgávamos muito cedo e agora estão privados dos carinhos indispensáveis de sua mui carinhosa mãe. O seu cartão de Boas Festas, neste fim de ano, bem ao contrário do que esperavam, foi extremamente tarjados. Estão inconsoláveis. Numa antevéspera de um Natal perderam, ou melhor, ficaram sem o maior cabedal deste mundo! Apesar do que virá depois a conformação necessária porque na realidade puríssima e triste evento promanou das ocorrências inevitáveis deste mundo tão infalivelmente por Deus Nosso Senhor.
Entretanto o imenso vácuo que o trespasso deixou se torna momentaneamente bem acentuado. É a morte, a incomparável morte!
É a sua decisão implacável que ora vem envolver, a todos e num só momento.
Miguel Bulhões, janeiro de 1954.
Que crônica essa do.Maestro Miguel Bulhões ,Xará !!
ResponderExcluirÉ de arrepiar a riqueza de detalhes quando ele descreve o tema.
É uma pena, que só muitos anos após sua morte, nós de uma geração mais recente, tomos conhecimento desse talento .
Parabéns pela pesquisa!!