Explorando os volumes do Jornal de Alagoas do século passado no Arquivo Público em busca dos textos escritos pelo Maestro Miguel Bulhões (1903–1995), deparei-me com outra preciosidade: As contribuições jornalísticas de João da Silva Yoyô Filho, conhecido popularmente como “João Yoyô”. Foi uma surpresa! Assim como eu, muitos santanenses desconhecem suas crônicas.
Segundo o escritor Djalma Carvalho, o “idealismo, a coragem e a confiança dos filhos da terra comum conduziram os históricos contatos feitos pelo padre Fernando Medeiros (1910-1984), João da Silva Yoyô Filho(1917-1984) e padre José Bulhões (1886-1952) junto ao cônego Teófanes de Barros (1912-2001), brilhante educador alagoano, visando à criação do Ginásio Santana.
Estávamos nos idos 1950, precisamente no dia 11 de fevereiro, um sábado radioso, tipicamente sertanejo. Na residência do padre José Bulhões, o sonho dos santanenses concretizou-se. Estava fundado o Ginásio Santana. A cultura projetaria a cidade. As sensacionalistas manchetes do crime e do cangaço perderam sua vez.
Em 1954, João Yoyô exercia o cargo de primeiro diretor do Ginásio Santana.
Aves de Arribação
Há, indiscutivelmente, uma grande diferença entre o animal racional e o irracional.
Muito embora, o homem tão cheio de dotes e riquezas, possuindo uma alma revestida de suas potências e faculdades, e um corpo equilibrado e movido pelos seus órgãos, vem tornando-se inferior ao animal desprovido de razão.
Acontece, porém, que o irracional, levado exclusivamente pelo instinto, cuja vontade está subordinada diretamente ao Criador, somente se utiliza do mesmo, quando se oferece a verdadeira oportunidade.
O homem, criatura racional, senhor de uma liberdade respeitada pelo próprio Deus, abusa desse privilégio, e lá vai arrastado pela enxurrada da ilusão, em busca de um paraíso efêmero que se apresenta nas longínquas terras do sul do nosso País.
Com este paralelo, demonstrarei aos nobres leitores desta acolhida "Página dos Municípios", que, o homem nordestino está inferior à nossa "cardinheira", essa avezinha que se desloca dos sertões do Piauí, em busca de refrigério, nas terras férteis das Alagoas.
Para que compreendamos a justificativa da minha comparação, devemos notar que as referidas pombinhas só se deslocaram dos seus ninhos e campos, forçadas pelas circunstâncias gravíssimas das intempéries. Ao contrário disto, permanecerão na terra que lhe viu nascer, quem sabe?... Talvez mais poupadas das espingardas certeiras do mestre Pimpim e do Manuel Amaral (Marinheiro), quando este último ainda apreciava o esporte cinegético.
O homem nordestino, não: sem nenhuma ameaça de tempo ruim, abandona o seu torrão natal, que acima de tudo lhe devia ser bem preferido, e sai perambulando dentro dos "paus de arara", começando a sofrer como "couro depende pisar tabaco", desde o momento em que põe os pés dentro dos tais veículos.
Não há conselhos que detenham a praticabilidade do atual êxodo. Até os proprietários de carros que, apesar de ganharem as "gaitas" dos pobres incautos, zombam dos mesmos, escrevendo no para-choque dos caminhões: "Levo os enganados e trago os arrependidos".
Creio que somente a instrução, mas no sentido completo, formada pelos poderes competentes, baseada numa campanha relutante, com elementos de ajuda, impedirá a ilusão de emigrante, fixando-o em nossos solos tão fartos e inexplorados. Do contrário, inevitavelmente, teremos o deserto do Nordeste, conforme já me referi anteriormente numa destas simples colaborações.
Conheço várias pessoas da nossa zona que têm viajado para São Paulo e Paraná, com a finalidade de arranjarem uma fortuna mais fácil. Trazem qualquer coisa, não há dúvida; porém, dizem eles: "o baque é duro pra se arrumar o ouro; quando a gente chega aqui, o dinheiro escorrega da mão como muçu - parece que tem praga…”
Acho razoável a comparação do meu amigo. É muito fácil a decifração do enigma: o homem cultivando a terra em propriedade sua ou mesmo arrendada, sem se locomover, não precisa desfazer-se dos bens que possui; e se porventura não for bem sucedido na colheita, o que acontece em qualquer parte, como agora mesmo está sucedendo em São Paulo, em consequência das chuvas que são demasiadas, sobra-lhe o porco, o cavalo, a cabra, etc. e o próprio terreno se pertencer-lhe.
Todavia, vendendo os seus haveres e se entretendo com os sonhos mirabolantes que o extasia nas geadas de São Paulo e Paraná, limita-se somente ao salário, pouco importa ser grande ou pequeno, e quando retorna à sua terra sem mais àquela quantia certa, nada mais encontra do que possuía, passando a dizer que o dinheiro de São Paulo é excomungado. E o resultado é mesmo ficar com essas desculpas e como diz a gíria: "gritando epa e liso que só uma garrafa ensebada".
Eis, portanto, o motivo que me fez dizer, que o homem, principalmente o nordestino camponês, vem tornando-se inferior ao irracional; porque, sem justificativa, equipara-se às aves de arribação.
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João Yoyô Filho, 11 de Julho de 1954
Como falei anteriormente nos comentários do Blog ,sobre o escritos de correspondente da follha dos municipios do Jornal de Alagoas do Maestro Miguel Bulhões , também desconhecia , a até agora, algo publicado por Dr. João Yoyô Filho.
ResponderExcluirParabéns pelz pesquisa, Xará!